O presente documento que apresento para a sua apreciação
contém algumas reflexões pessoais, mas, esclareço que se trata apenas de uma
breve preliminar do grande debate conjuntural que deverá ocorrer durante o
nosso 7º Congresso Nacional que se realizará nos próximos dias 22, 23 e 24 de
novembro, em São Paulo.
O Brasil e o mundo vivem hoje um grande dilema no cenário
político e econômico. Em meio às grandes crises financeiras, humanitárias e
ambientais que afetam diversas nações, inclusive as desenvolvidas, nós temos
assistido nos últimos anos a um impressionante aumento da influência da direita.
Mesmo em países onde o centro ou a esquerda alcançaram a vitória nos pleitos,
constata-se ao mesmo tempo um preocupante aumento da popularidade da direita e/ou
da extrema-direita, inclusive de organizações de inspiração ultranacionalista e
mesmo nazista.
Infelizmente, a esquerda mundial, com reflexos importantes
aqui no Brasil, parece que ainda não encontrou um eixo comum, um projeto
alternativo, para convencer e consolidar a sua representação nas instituições
democráticas mundo afora. Este é um debate que deve ser feito com urgência
também por nós. Paralelamente a isso temos assistido nas últimas semanas a uma
grande agitação política e social em países da América Latina. A revolta
popular no Chile contra o governo neoliberal e as manifestações populares no
Equador contra as iniciativas antipovo do seu atual governo são bons exemplos
de mobilização social. Ao mesmo tempo em que assistimos indignados ao golpe na
vizinha Bolívia que, com respaldo vergonhoso do governo brasileiro e dos
Estados Unidos, derrubou o então presidente Evo Morales, reeleito
democraticamente pelas urnas. O PT repudiou e denunciou o fato à comunidade
internacional.
Mas também tivemos a felicidade de assistir à expressiva vitória
de Alberto Fernandez e Cristina Kirchner na Argentina, com a derrota do governo
neoliberal fracassado de Macri, antes aclamado pela mídia conservadora
brasileira. E no Uruguai esperamos que a coisa também caminhe para mais uma
vitória da esquerda. São resultados que nos trazem um certo alento, mas também
acendem um alerta sobre o poder de manipulação da direita, principalmente nas
redes sociais.
Outro fato gravíssimo na conjuntura mundial e,
especificamente no Brasil, é o atual aumento da desigualdade social e
econômica, com a queda do poder aquisitivo da população. No Brasil, a situação
torna-se ainda mais preocupante e dramática, pois após a superação da extrema
pobreza durante os governos petistas, agora assistimos perplexos e até mesmo
impotentes, ao retorno do Brasil ao mapa da miséria. Mas se a tônica do atual
governo extremista é “desconstruir tudo”, conforme bradava no palanque o então
candidato que venceu as eleições, o que dizer frente a este cenário de
destruição das conquistas sociais?
O aumento crescente do desemprego e o seu reflexo na
multiplicação do emprego precário provocado pela informalidade contribui
diretamente para este quadro dramático. Que país é este onde as pesquisas
mostram que grande parte dos trabalhadores brasileiros vivem hoje com um quarto
do salário mínimo? Até mesmo economistas liberais, fazendo um meia culpa
tardio, já alertaram que o Brasil não tem futuro se não resolver a questão da
desigualdade social. Mas o governo atual, a exemplo do golpista Michel Temer,
parece não se importar, basta ver o atual pacote anti-trabalhista enviado pelo
todo poderoso ministro da Economia, onde uma das ferramentas do seu saco de
maldades é uma maldita “carteira verdade-amarela” com foco no aumento do emprego
para os jovens brasileiros. Serão empregos com menos direitos para os futuros
trabalhadores e mais privilégios para os patrões. E neste mesmo pacote
pretende-se arrecadar 12 bilhões de reais com a taxação dos desempregados. É o
cúmulo do cinismo. Pobre da nossa juventude, que ficará à mercê da exploração e
das condições indignas de trabalho que foram os maiores motivos da nossa luta
sindical de décadas atrás. Mais uma mostra do atraso que o atual governo
representa.
Em meio a toda esta tragédia social e econômica, aliada ao
objetivo de desmonte total da máquina pública, ainda registramos dois dos
maiores desastres ambientais da nossa história recente: as queimadas e o
aumento do desmatamento na Amazônia e o derramamento de óleo que atingiu cerca
de 300 praias do Nordeste e até do Sudeste, que prejudica ferozmente pescadores,
empresários, turistas e toda a economia dos estados nordestinos. No primeiro
caso vimos a inapetência e a cumplicidade criminosa do atual governo, cujo
presidente já admitiu em discurso que teria incentivado irresponsavelmente as
queimadas. No segundo, mais uma vergonhosa constatação de que estamos sem
governo neste país. Em qualquer nação séria o atual ministro do Meio Ambiente
seria imediatamente demitido e processado.
Diante deste quadro de desolação e de desconstrução dos
avanços conquistados a duras penas durante os treze anos dos governos Lula e
Dilma chamo a atenção para a importância deste 7º Congresso neste momento de
reorganização da nossa luta política. Como o maior partido de esquerda da
América Latina cabe ao PT o papel histórico de não somente debater a atual
conjuntura internacional e, especialmente a nacional, mas também apontar rumos
e encaminhar decisões para fortalecer a defesa da democracia, dos movimentos
sociais e dos direitos coletivos e individuais que estão sob grande ameaça no
Brasil.
Deixo aqui então esta minha pequena contribuição sobre
estes temas que, logicamente, serão bem mais aprofundados durante o nosso
Congresso, mas agora quero me dirigir especificamente aos companheiros e
companheiras da minha corrente interna no PT, a Construindo um Novo Brasil (CNB).
Corrente esta que atualmente dá continuidade a um processo
político iniciado ainda com o grupo 113, e que já faz parte da trajetória
histórica dos 39 anos do PT, período em que sempre atuou para garantir a
implementação do projeto nacional que defendemos para o Brasil.
É importante destacar o papel da CNB como uma corrente
pluralista, que sempre defendeu o Processo de Eleição Direta (PED) para a
escolha das direções em todas as instâncias partidárias, que é uma das coisas
mais democráticas dentro de um partido de esquerda.
Aproveito também para parabenizar e agradecer a todos/as
filiados/as que foram às urnas em 8 de setembro para exercer o seu legítimo
direito de votar nas direções partidárias e chapas de delegados/as aos seus
respectivos congressos estaduais. Lembramos que o PED 2019 contou com a
presença de 370 mil filiados/as votantes.
Com a ajuda de todos/as, a CNB conseguiu chegar a mais de
50% dos votos, o que é um feito extremamente importante para uma corrente
interna. E na minha opinião poderíamos ter chegado a conquistar uma porcentagem
bem maior nesta disputa, mas reafirmo aqui todo o nosso respeito às demais
forças internas que também participaram do PED 2019 de maneira brilhante fiel
aos princípios democráticos que norteiam o PT.
Por isso quero conclamar aqui os delegados e delegadas da
CNB ao 7º Congresso para que, maciçamente, contribuam de forma positiva e
produtiva para com os debates e a elaboração de propostas para que o Partido
dos Trabalhadores se prepare para os seus próximos grandes desafios. E que se
mantenham unidos para a eleição de uma nova direção nacional do PT, coesa e
eficiente na construção do partido.
Este Congresso é também especial porque contará mais uma
vez com a presença do nosso líder máximo, Luiz Inácio Lula da Silva, enfim solto
após a sua prisão injusta e ilegal, mas ainda na luta para que seja confirmada
a sua inocência, na qual todos nós, seus companheiros e companheiras de luta
acreditamos piamente. Assim como os companheiros João Vaccari, José Dirceu, Delúbio
Soares e outros, também soltos, mas cuja liberdade e inocência ainda não estão
garantidas. Portanto, a resistência tem que continuar.
Devemos concentrar o nosso foco na consolidação de uma
oposição forte para fazer frente ao atual desgoverno fascista e reagrupar as
forças populares para vencer as eleições de 2020 e de 2022.
Viva o PT!
Lula Inocente!
Gleisi Presidenta!
Francisco
Rocha da Silva, Rochinha
Coordenador Nacional da CNB
Coordenador Nacional da CNB