Mais uma contribuição para o
VI Congresso do PT
Paulo Frateschi
06.11.2016
O PT e o Governo Lula investiram numa
estratégia que, baseada no nosso programa
democrático popular, buscou uma aliança
com algumas frações da burguesia nacional.
Estas parcelas foram entendendo que,
naquele estágio do capitalismo brasileiro,
um mercado interno vigoroso, a inclusão de
milhões de brasileiros, a melhoria da renda
da classe trabalhadora, a ampliação do
crédito e os projetos sociais iriam fortalecer
as empresas nacionais.
O Governo Lula obteve excelentes
resultados e extraordinária aprovação
popular. Parte do empresariado fortificou e
ampliou suas empresas e seus negócios
num momento de crescimento econômico
com distribuição de renda.
Portanto, foi sim construída uma aliança
com estas frações da burguesia nacional
demonstrando que o receituário neoliberal
pode e deve ser combatido e que o
combate à pobreza é compatível com o
desenvolvimento econômico.
Os resultados foram tão bons e
incomodaram tanto o grande capital
financeiro e as grandes corporações
internacionais que, para derrotar o PT e seu
projeto democrático e popular, valia até
sacrificar esses setores da burguesia
nacional.
É simplória e desprovida de
fundamentos a tese de que esse ciclo se
esgotou porque esta burguesia, que cresceu
no Governo Lula, resolveu nos derrubar ao
ver seus lucros ameaçados pela melhoria da
participação dos trabalhadores na renda
nacional.
Essas parcelas da burguesia nacional
estão sendo destruídas para que possam
derrotar o projeto como um todo.
As grandes construtoras estão na
bancarrota. As empresas ligadas a
construção naval, totalmente paralisadas.
As companhias ligadas à Petrobras, em
stand by. A maior produtora de proteína
animal, duramente perseguida, está levando
sua sede para fora do país. Os negócios das
empresas nacionais estão parados.
Enquanto isso, a chancelaria do governo
golpista articula em Washington-NY a
entrega de tudo para os grandes
aglomerados americanos.
Quem ganha e
quem perde com o golpe no mundo do
capital? Será que isso não interessa para o
mundo do trabalho?
Quem planejou, sustentou e aplicou o
golpe foi o rentismo, o grande capital
financeiro e as grandes empresas
americanas, que têm interesse no Pré-Sal e
em substituir as empresas nacionais que
estão sendo sacrificadas.
Quem derrubou Dilma foi esse
movimento global do grande capital, que
considera que para aumentar seus lucros é
preciso arruinar os trabalhadores, diminuir
sua renda para otimizar a mais valia
relativa que cai sempre na sua conta.
Conta
bancaria, é claro.
Até agora – nesse início de discussão do
VI Congresso – a crítica principal que
aparece é que nossa estratégia foi errada ao
acreditar na possibilidade da “conciliação
de classe”, sem conflitos mais profundos
com os interesses do grande empresariado.
E que, em decorrência dessa visão, fomos
deslizando para o “progressismo
melhorista” de inclusão social. Assim,
teríamos abandonado nossos objetivos de
realização de reformas estruturais
democráticas e populares articuladas com a
luta pelo socialismo.
Se o termo “conciliação” for usado de
forma pejorativa para tentar demonstrar
fraqueza do nosso projeto e prejuízo para
os trabalhadores, devemos rejeitá-lo.
A história da luta pela emancipação dos
trabalhadores aponta vários momentos em
que foram necessárias alianças com setores
da burguesia levando-se em conta o estágio
de desenvolvimento do capitalismo e o nível
de crescimento da luta dos oprimidos. A
negação desses processos deseduca a classe
trabalhadora.
Trabalhador não é tudo igual. Mãe não é
tudo igual. Mulher não é tudo igual. Homem
não é tudo igual. Ouso afirmar que a
BURGUESIA também não é tudo igual. A
burguesia ocupa posições diferenciadas no
sistema e carrega graves contradições. Cabe
a nós tentarmos essas contradições.
Durante todo o período dos nossos
governos levantamos as bandeiras da
reforma política, da reforma tributária e da
regulamentação das comunicações.
Em
muitos momentos, alguns cobraram mais
empenho de mobilização do partido, outros
cobraram mais definição e decisão por
parte do governo. Talvez todos tenham
razão.
Entretanto, não podemos descartar a
correlação de forças nesses embates. O jogo
foi bruto. Os tribunais estão contra nós. As
forças conservadoras do congresso estão
contra nós. A mídia monopolizada usa todas
as armas contra nós. A parcela mais
conservadora da classe média está contra
nós. Para piorar: setores “aliados” cedem a
esses poderes.
O certo é que, na análise da correlação
de forças, os passos que poderiam
precipitar confrontos foram evitados. Em
certo momento, tememos que a imprensa
iria nos massacrar com o envio da
mensagem da regulamentação da mídia.
Ora, eles já nos massacravam o tempo todo.
Então por que não enfrentá-los? Se
tivéssemos perdido no congresso e nos
tribunais teríamos avançado na politização
do nosso povo e teríamos mais força para
resistir ao golpe. Outro exemplo:
provavelmente não teríamos vencido a
batalha da reforma tributária que
desejamos, com importo progressivo,
taxação das grandes fortunas, etc. No
entanto, se tivéssemos entrado na disputa e
batalhado pela reforma no Congresso,
talvez tivéssemos hoje mais força e mais
apoio popular para resistir.
Estas sim são análises e críticas
necessárias que o VI congresso do PT deve
encarar.
Dizer apenas que abandonamos as
reformas estruturais pela realização de um
governo “melhorista” serve à luta interna,
não à luta dos trabalhadores contra o golpe.
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