Passadas as eleições 2014, o imaginário popular não conseguiu, como em eleições anteriores, absorver ou dissipar e tampouco aceitar os resultados de uma disputa polarizada de uma eleição presidencial que teve como vitoriosa a presidenta Dilma Rousseff. Nas democracias consolidadas os resultados de disputas entre oposição e situação no Parlamento ou em disputas eleitorais são respeitados, mesmo que seja por uma diferença mínima de votos entre um lado e outro.
A sensação que eu tenho é de que algo de errado está
acontecendo na política brasileira. Compreendo que o processo de disputa
política na América Latina tem uma história diferente da Europa e de outros
países democráticos, mas antes de tudo as nossas lideranças políticas, da
situação e da oposição, deveriam antes de tudo ter como prioridade o bem estar
do povo brasileiro, acima da suas disputas e vaidades pessoais. Governos
passam, mas permanece a representação da política pelos partidos e as gerações
continuam. Espero que o bom senso prevaleça e a sociedade consiga entender que
acima das disputas políticas está o bem estar da sociedade pois a vida
continua.
Nesta análise ainda preliminar me parece que a manifestação
ocorrida no dia 13 de março e a de ontem, dia 15, para os políticos e para os
analistas da política não passou de uma disputa de Fla-Flu, ou seja, prevaleceu
a onda de quem seria capaz de levar mais gente para as ruas. De um lado, no dia
13, a visão passada pela mídia era de que todos aqueles que estavam nas ruas se
posicionavam a favor do governo, e no dia 15 todos os manifestantes eram
contrários ao governo.
Na minha opinião, não foi nem uma coisa e nem outra. No dia
13, se na pauta tinha o apoio à presidenta Dilma, tinham os que cobravam medidas mais duras
contra a corrupção e também mudanças no
rumo da política econômica do governo, além de reforma política e democracia.
No dia 15, a oposição, o Sistema Globo e setores da velha mídia insuflaram uma
única palavra de ordem: Impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Em boa parte
não foi isso que aconteceu. A pauta era muito mais ampla do que a do dia 13,
inclusive com uma posição da massa contra a presença de políticos na
manifestação. Exemplo disso foi a exclusão do deputado federal Paulinho da
Força, presidente do partido Solidariedade, fundador e ex-presidente da Força
Sindical, ao insistir em discutir o impeachment. Ele foi vaiado, xingado e
expulso do próprio carro pertencente à central sindical. O outro exemplo
ocorreu no Rio de Janeiro, aonde o deputado Bolsonaro foi escorraçado do ato
pelos manifestantes. Foi uma manifestação onde também tinham bandeiras
políticas para todos os gostos. Alguns defendiam a volta da ditadura militar,
outros pediam o impeachment da presidenta Dilma e também os que reivindicavam
melhorias de condições de vida, a reforma política, etc.
Passadas as duas manifestações cabe ao governo e aos
partidos, da situação ou da oposição, fazer uma profunda reflexão política
sobre os dois acontecimentos políticos da rua. Em artigos anteriores tenho
insistido que o governo e o PT precisam atualizar a sua pauta aos novos tempos
de se fazer política sem deixar de lado a sua opção de projeto de governo e de
partido de esquerda. Cabe aos dois retomar, mesmo que de forma diferenciada, um
novo modelo de comunicação para interagir com as novas mudanças que aconteceram
no Brasil nestes últimos 12 anos. Quem sabe um novo pacto social entre a
sociedade e a política. Algo parecido com a “Carta ao Povo Brasileiro” firmada pelo então candidato Luiz
Inácio Lula da Silva, em 2002, uma espécie de compromisso assumido por ele
perante à sociedade brasileira. Ao atual governo cabe agilizar os programas
sociais e de infraestrutura que estão em andamento e abrir novas frentes de
trabalho onde possa incorporar imediatamente o contingente de pessoas que
perderam seus empregos nos últimos meses, especialmente na área de atuação da
Petrobras, tendo como destaque a retomada das atividades nos estaleiros.
Insisto que a presidenta Dilma tem que tomar a frente das
articulações políticas e sociais do seu governo, uma vez que na cabeça do brasileiro
o presidente da República é visto como uma espécie de “mãe” no comando da nação,
e paga um preço politico por seus erros ou por seus acertos.
Na minha opinião, a presidenta Dilma precisa de uma agenda
positiva e que possa percorrer o Brasil real, ou seja, sair dos eventos de
caráter corporativo e fechado para fazer um contato mais direto com a massa da
sociedade. Do ponto de vista da comunicação esta não é a primeira vez que faço
críticas abertas ao governo. Para que serve uma Secretaria de Comunicação
chamada Secom? Qual é o seu papel? Cuidar de interagir com a sociedade
informando sobre as ações do governo, ou meramente executar a política de
distribuição de verbas publicitárias? Considero, com todo o respeito, a Secom
um órgão que sequer deveria existir, e que talvez seu papel fosse direcionado
para outras áreas do governo.
Para a área de infraestrutura deveria ser criado um órgão
próximo à presidenta Dilma para poder informa-la diretamente sobre o andamento
ou a paralisação de projetos de grande porte, independentemente de estarem
vinculados a qualquer ministério. Não são poucas as reclamações da lentidão em várias
obras estruturantes que estão sendo executadas pelo Brasil afora. Sem falar da
importância da presidenta, de corpo e alma, nos locais onde estão sendo
executadas essas obras.
Estas são algumas das observações que levo ao conhecimento
público como uma mera contribuição para o governo e para o PT.
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