Em defesa do amigo e cidadão José Dirceu
RICARDO KOTSCHO/PORTAL R7
Dez anos atrás, nesta
mesma época, todo mundo queria ser amigo de José Dirceu, o coordenador da
campanha que dali a alguns dias levaria Lula à sua primeira vitória nas
eleições presidenciais.
Hoje, é tratado pela maior parte da
imprensa como se fosse o inimigo público número um, alguém a ser execrado e
combatido de todas as formas, embora ainda lhe restem muitos amigos.
Nomeado ministro-chefe da Casa Civil,
Dirceu teve papel importante na formação do governo eleito, sem maioria no
Congresso Nacional. Discutida durante várias semanas, a aliança com o PMDB, o
maior partido no parlamento, não deu certo.
Nascem aí, a meu ver, as dificuldades
políticas do PT, que três anos depois levariam o partido a ser denunciado no
caso do mensalão, dando início ao processo ora sendo julgado pelo Supremo
Tribunal Federal.
Bem antes, porém, do STF abrir suas
portas para colocar em pauta a ação penal 470, José Dirceu já parecia condenado
às penas máximas, e ponto — só não se exigindo a pena de morte porque não
consta da nossa legislação.
O bombardeio contra Dirceu na opinião
pública foi de tal ordem que não podia mais haver nenhuma discussão sobre os
autos e as provas constantes do processo.
Simplesmente, não se admitia dos
ministros do STF outra decisão a não ser condená-lo e mandá-lo para a cadeia,
com ou sem provas, quaisquer que fossem os argumentos da defesa.
Programado para coincidir com a reta
final da campanha eleitoral, o julgamento de José Dirceu, José Genoíno e
Delúbio Soares na próxima semana é tratado como causa vencida, antes que seja
dado o primeiro voto no STF.
Dirceu tornou-se o símbolo do PT a ser
destruído, mas na verdade o que se busca com a sua condenação é desconstruir a
imagem do governo de Lula, aprovado por mais de 80% da população, e do seu
partido. No noticiário, nas colunas, nos blogs e nos comentários das redes
sociais, virou uma guerra de extermínio, a vingança de quem perdeu o poder em
2002.
É nesse clima de esfola e mata que um
grupo de artistas, intelectuais e acadêmicos está preparando um documento, que
já conta com mais de 200 assinaturas, em defesa de um julgamento que respeite
os réus e não ceda ao massacre promovido pelos meios de comunicação.
"Não reivindicamos a inocência de
ninguém. Mas esperamos que os ministros do STF saibam punir quem tem de ser
punido. E inocentar quem tem direito à inocência", diz um dos
articuladores do texto, o produtor de cinema Luiz Carlos Barreto, 82 anos,
velho amigo do ex-ministro.
"Não é um manifesto. É um texto
filosófico-doutrinário de cidadãos brasileiros preocupados com a manutenção de
alguns direitos constitucionais, sobretudo o direito à presunção da
inocência", explicou Barreto a Fabio Brisolla, da Folha.
"Somos contra a espetacularização
do julgamento, o pré-julgamento e a pré-condenação que vem se fazendo
publicamente. Esperamos que o julgamento seja feito no tribunal". O nome
de José Dirceu nem é citado no texto.
Um dos signatários é o arquiteto Oscar
Niemeyer, que disse a O Globo: "Desde o início há uma campanha contra o
José Dirceu. Um exagero.” O economista Luiz Carlos Bresser-Pereira, que foi
ministro no governo de Fernando Henrique Cardoso, justificou sua adesão ao
documento por se tratar de "um texto que fala sobre como se aplicam os
princípios de direito em geral, que precisam ser seguidos".
Os autores do documento ainda não
decidiram se a mensagem será enviada aos ministros do STF. Entre outros,
assinam o texto o compositor e poeta Jorge Mautner, a empresária Flora Gil,
mulher de Gilberto Gil, os cineastas Bruno Barreto e Tizuka Yamazaki, o
escritor Fernando Morais e o músico Alceu Valença.
Em outras palavras, questões jurídicas e político-eleitorais à parte, o
que o documento dos seus amigos reivindica é respeito aos direitos do cidadão
José Dirceu.
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